Sobre a ausência de recreio e curtíssimos intervalos escolares

02-11-2018

"Uma criança passa menos tempo ao ar livre do que um recluso", alertou-nos o Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Dr. Pedro Strecht, em entrevista para o Observador, a 20 Outubro 2018.

Infelizmente tenho de corroborar: os intervalos foram-se tornando mais pequenos e, esta escolha, alastrada a cada vez mais escolas.

Imagino que este carácter progressivo e lento levou a que muitas pessoas, alheias à comunidade escolar, nem dessem por isto.

Pior, parece-me que há pouca consciência acerca das implicações neuropsicológicas e da personalidade desta escolha escolar.

Sei que "ausência" pode parecer uma palavra forte mas, se me permitem a brincadeira com as palavras, então, admito que há intervalos (muito curtos), mas não há recreio.

Aliás, preocupa-me que a educação escolar esteja cada vez mais centrada nas aprendizagens cognitivas, que certamente serão perturbadas pela falta de vivência nos recreios.

O tempo de brincar (e jogar, conversar e interagir) equivale à co-construção da regulação emocional (e relacional e afectiva) onde assentam os conteúdos racionais (e cognitivos) aprendidos nas aulas.

Por isso pergunto: como construir inteligência, sem recreio?

Impossível.



(Imagem: KHANINE Evgueni [1930], "Children playing (secrets)")


Dr.ª Rute Teixeira, Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica e da Saúde                                                           Agendamento de consultas:  96 336 74 37
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora