Sobre Dezembro de 2020

19-10-2021

Em Dezembro de 2020 escrevi e publiquei o texto: "Fugir com o Braço à Seringa"​ ou "Dar o Braço à Vacina"​?

É com um agrado enorme que percebo que o nosso povo tomou a decisão certa.


Abaixo deixo o texto que escrevi na altura, sim, nessa época em que se estimava que cerca de 1/3 dos portugueses queria fugir com o braço à seringa.

É sempre interessante fazer o exercício, objectivo, de reler os nossos contextos passados e perceber que, felizmente, todos estamos a tempo de mudar de ideias, de evoluir, de usarmos, cada vez mais, a ciência, para guiar as nossas escolhas (literalmente!) de vida.

Espero que apreciem o texto, mas sobretudo, que ele vos desfaça algumas crenças, que poderão ainda estar a perturbar a escolha que tomaram.

Eu estou em paz com a minha escolha. 

Fui vacinada (2ª dose) em Agosto de 2021 e já voltei a dar as minhas duas aulas, presenciais, de Psicologia das Emoções e de Treino e Funcionamento Cerebrais, a seniores. 

Ou seja, aos poucos, a vida reencaminha-se para do dito normal.




"Fugir com o Braço à Seringa"​ ou "Dar o Braço à Vacina"​?

14 de Dezembro de 2020



E somos assim: incongruentes.

Porque o desenvolvimento do raciocínio nem sempre segue, a par e passo, o desenvolvimento emocional. Desta desarmonia podem decorrer incoerências, confusões e conflitos; comportamentos erráticos; acções pouco pensadas; ou até mesmo a procrastinação de decisões que, já sabemos, algures no tempo, iremos tomar.

Recorde-se que a maioria de nós queria, com urgência, uma vacina contra a Covid-19, agora, um terço dos portugueses pretende "fugir com o braço à seringa", com argumentos, por vezes, assentes em ideias ou em rumores, que exploram medos, potenciam crenças e desprezam factos.

É natural que existam medos: o contexto é pandémico; as vacinas são novas; e, apesar de termos observado as suas apresentações ao mundo, não fizemos parte dos seus processos de elaboração.

Estamos a observar de fora, sentimos que pouco sabemos e as partes mais primitivas dos nossos cérebros tendem a codificar o desconhecido como "pouco seguro" ou "perigoso".

Valha-nos o neocórtex para lermos e escutarmos de fontes oficiais; para raciocinarmos; e para compreendermos o real grau de segurança desta vacina.

Porque se percebermos ao que se deve esta aparente rapidez, na elaboração das vacinas contra o SARS-CoV-2, talvez se "dê a mão à palmatória", perante as falhas nos argumentos, e, quiçá, se dê "o braço à vacina".

E como estamos numa situação de excepção, ainda que a minha profissão acabe por levar-me a reservar as minhas linhas de pensamento, as minhas decisões e acções, desde que pessoais, vou partilhar neste texto...

... Porque escolho "dar o braço à vacina"

1. Compreendo que a elaboração das vacinas contra o SARS-CoV-2 passaram pelos mesmos processos de aprovações e testagens, tal como as restantes vacinas, pelo que são seguras.

Após um longo trabalho de pesquisa e estudo de opiniões de especialistas, percebo que já existia todo um trabalho moroso, anterior e sedimentado, sobre os coronavírus; bem como todo um trabalho tecnológico e de desenvolvimento de vacinas, que permitiu um grande avanço em todas as Fases I, das tentativas de elaboração destas novas vacinas.

Bebeu-se, então, destes conhecimentos anteriores e, portanto, as tentativas de fabricar a nossa vacina foram, por isso, mais celeremente desenvolvidas, passando-se mais rapidamente para as Fases Posteriores.

Em suma, não houve atrasos.

2. Compreendo que não houve os tradicionais atrasos na elaboração das vacinas contra o SARS-CoV-2, pelo que as Fases I, II e III decorreram sem paragens forçadas.

Tomei conhecimento que os clássicos atrasos no desenvolvimento de vacinas devem-se a:

  • Baixa prevalência da doença na comunidade, tal que justifique o trabalho e o dinheiro envolvidos nestes processos de criação de uma nova vacina;
  • Dificuldade em encontrar o número necessário de voluntários para testagens;
  • Falta de financiamento.

Nenhum destes factores foi verificado, pelo que as diversas fases decorreram sem atrasos.

3. Compreendo que quanto maior o número de voluntários, envolvidos num estudo, com mais segurança podem ser retiradas conclusões.

Numa Fase III da elaboração de qualquer vacina, os ensaios clínicos requerem grupos de 300 a 3000 participantes para as vacinas poderem ser aprovadas.

As vacinas contra a COVID-19 da Pfizer/BioTech envolveram mais de 43 000 participantes nesta 3ª Fase.

E isto é, claramente, muito melhor, porque significa que as conclusões científicas podem ser retiradas com mais segurança.

4. Compreendo que qualquer vacina, apesar de segura, possa causar efeitos adversos. Mas sinto que posso comunicar com o profissional de saúde, que me atenderá, cujos conhecimentos e experiência irão ajudar-me.

A probabilidade de se ter uma reacção adversa (estima-se 1 reacção severamente alérgica em 760 000 vacinas administradas) é menor do que a probabilidade de ser atingido por um trovão (1 vez, por cada 700 000 trovões).

Sabendo isto, sinto-me muito mais descansada.

Se bem que, aquilo que, verdadeiramente me tranquiliza é a relação de confiança que tenho para com os nossos profissionais:

  1. Sei que, se na altura sentir necessidade, posso aconselhar-me com o meu médico de família.
  2. Sinto que posso comunicar, com a equipa de saúde, que me atenderá no momento da vacinação, abordando situações da minha história clínica anterior, que me pareçam importantes para antecipar alguma possível, ainda que pouco espectável, situação.
  3. Confio, que se alguma reacção adversa surgir, na altura, os profissionais tomarão as diligências necessárias. Afinal têm experiência e anos de estudos que lhes permitem, ainda que em stress, agir para bem de todos os utentes.

4. Sim, estou motivada.

Em primeiro lugar, as informações acima tranquilizam-me.

Fazer escolhas implica deter informação não degradada, contextualizada e elaborada, e, confesso, nutro-me diariamente de informações científicas, para ajudar-me a escolher, de forma mais consciente, o que quero fazer, nesta caso, do meu sistema imunitário.

Escolho torná-lo mais forte, perante uma crise pandémica para a qual, naturalmente, ainda não tenho defesas.

Além disso, sinto-me grata por viver numa Era Tecnológica, que permite as trocas de informações e de conhecimentos entre cientistas, o que não desacelerou nenhuma das fases acima referidas. Sinto-me também sortuda por viver numa época após a descoberta do conceito de "vacina" e de anos de experiência em inoculação.

Apesar de ter de esperar muito para poder dar este passo, para minha protecção e para a protecção dos meus mais próximos, continuo altamente motivada.

Também porque existe um amanhã e isso traduz-se em permitir a retoma económica e em, finalmente, gozar as férias e os feriados com aqueles que amo.


Dr.ª Rute Teixeira, Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica e da Saúde                                                           Agendamento de consultas:  96 336 74 37
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