Sobre os Discursos Negacionistas

30-11-2020

Se os tempos actuais me relembram da sabedoria de Baruch Espinoza, também não me permitem esquecer daquelas pessoas que beneficiam que todos respeitemos as directivas da DGS. 

 #draruteteixeira #rigor #ciência #consequências #pandemia #negacionistas #imunossupressão 


"Não rir, nem lamentar-se, nem odiar mas compreender."


Como manter este nível de inteligência emocional de Espinosa, quando tantas pessoas acreditam (domínio da crença) que o vírus não existe?

É que não aceitar os factos gera um impacto negativo na tomada de decisão, que passa a servir as partes mais primitivas do Eu e, portanto, menos a favor dos outros.

E isto é mais grave quando há um vírus respiratório, em transmissão comunitária.

E eis que ter comportamentos simples, para evitar ser contagiado, foi esperado. A maioria aderiu, não obstante a fadiga que já todos acusamos.

Porém, há um passo ainda maior, o passo mais empático, que pode ajudar a manter estes comportamentos: Há pessoas que estão, neste momento, a passar por situações de saúde que as tornam ou tornaram imunodeprimidas.

Isto significa que a pessoa que está atrás de si, na fila do supermercado, e da qual, se calhar, até nem guarda a devida distância de segurança, pode pertencer a um grupo de maior risco.

Sim. Maior risco.

Porque ninguém está naturalmente imune.

Pertencer a um grupo de maior risco não se vê no rosto: aquela pessoa, com ar angelical e metade da sua idade pode ser/estar imunodeprimida.

E volto a Espinoza: há que compreender e devolver esta compreensão de que, há todo um mundo, para além do nosso círculo.

A maioria de nós, felizmente, nunca se apercebeu do número de pessoas que estão doentes/em tratamentos.

Estas pessoas também tentam fazer a sua vida habitual: levam as crianças à escola, passam pelo supermercado, levantam dinheiro no multibanco.

E é também por respeito a estas pessoas, que nunca sabemos quem são, que sempre adoptei, desde cedo, as medidas da DGS.

E quanto a criticar ferozmente os negacionistas, sem maiores consequências* legais sobre eles, pode somente levantar defesas, potenciar a recusa da realidade, a clivagem e todas aquelas fantasias ancoradas ao desejo emocional de que a pandemia não passe de uma cabala.

É que o neocórtex permite o raciocínio, o sistema límbico serve as emoções, mas é no sistema mais primitivo do cérebro, mais impulsivo e irracional, que estão estas ilusões.

E é por isso que somente tentar desmontar a crença, em 10 minutos de conversa (mesmo sabendo que essa crença assenta num raciocínio mal amanhado, desconexo e com falhas), poderá abaná-la, mas não altera a sensação de perigo, que a activa, particularmente quando o detentor da crença volta a estar consigo mesmo (ou com quem também a partilha).

Sentir-se mais seguro, menos ameaçado, por este estranho novo mundo, pode dar espaço para dessensibilizar aqueles alarmes internos, que activam aquela realidade idiossincrática.

E, mais uma vez, para isso é preciso compreender como o vírus se propaga, como é possível conviver com ele, em comunidade, e como são os processos de ajustamento às mudanças.

É preciso mais informação, mais conhecimento e mais sabedoria.

É preciso mais ciência.

No limite, é preciso compreender, tal como nos ensinou Espinosa.

Compreender o mundo, os factos e estabelecer relações ancoradas na realidade.

Compreender, deste modo que explicitei, é nunca compactuar nem reforçar os discursos negacionistas, fora da realidade e da vida.

Aliás, espero das outras Ordens Profissionais o rigor que a minha aplica.

Não podemos deixar impunes discursos que colocam em perigo a Saúde Pública.

E, mais uma vez, o perigo é maior para grupos de pessoas já conhecidos, mas cujos elementos, por vezes, não se identificam com um mero soslaio.



*Consequências: A Psicologia explica que não há aprendizagem sem consequências. Torna-se fundamental que existam, para efectivar a mudança de comportamento. Retirá-las é reforçá-lo, tornando-se mais provável que o comportamento se repita (e até possa escalar).

Dr.ª Rute Teixeira, Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica e da Saúde                                                           Agendamento de consultas:  96 336 74 37
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