Sobre a "Arma" da Linguagem

01-01-2017

"Qual a mais forte das armas,/ A mais firme, a mais certeira?/ A lança, a espada, a clavina,/ Ou a funda aventureira?/ A pistola? O bacamarte?/ A espingarda, ou a flecha?/ O canhão que em praça forte/ Faz em dez minutos brecha?//Qual a mais firme das armas?/ O terçado, a fisga, o chuço,/ O dardo, a maça, o virote?/ A faca, o florete, o laço,/ O punhal, ou o chifarote?.../ A mais tremenda das armas,/ Pior que a durindana,/ Atendei, meus bons amigos:/ Se apelida: - A língua humana" 

Fagundes Varela

A Linguagem é a nossa Arma mais poderosa. É arma de trabalho, de inivação, de relação, de criação de novas redes neuronais. É uma Arma muito poderosa e potencialmente perigosa: permite a verdade e o engano; a lucidez e a loucura.

Esta Arma está presente em todo o Lugar, desde que haja humanos: num consultório de psicologia; numa consulta médica, numa negociação comercial; na barra de um Tribunal; num estabelecimento de ensino ou no ensino de regras e da expressão emocional, lá de casa; no "Estabelecimento" da Amizade, do Companheirismo, do Amor; ou até mesmo numa Declaração de Guerra ou de Paz.

Mais ainda, está na publicidade, quer com palavras, quer com imagens que evocam palavras; está em candidaturas à Presidência, à associação de estudantes ou a um novo emprego. 

Mas o que é que acontece quando, de um momento para o outro, na sequência de um AVC, surgem Perturbações ou se perde a Linguagem?

O que acontece quando progressivamente, na sequência de uma demência, começam a aparecer dificuldades em explicar-se a um outro?

A pessoa fica desarmada!

Fica desarmada pois na relação com os outros não consegue argumentar, não consegue encontrar a palavra para designar o objecto, não consegue regular aquelas emoções, como a frustração perante estas impossibilidades.

E o que acontece quando a criança apresenta perturbações na aquisição ou no uso da Linguagem? Indefesa, enclausurada nos seus pensamentos vagos ou por organizar, expressando-os com o corpo, com o tom de voz, com a agitação e até com a agressividade, pois não consegue defender-se usando esta Arma, a Linguagem. 

Sem a Linguagem a auxiliar, a potenciar o seu pensamento, como pode a criança regular as suas emoções? E o que acontece connosco, com o nosso comportamento, perante o comportamento dessa criança? E perante a forma como a educamos?

Nestes casos, em particular, devemos ter o extremo cuidado de comunicar de forma clara, com frases curtas e simples. A ironia não é permitida. As metáforas e os provérbios dificilmente irão ser entendidos pela criança e poderão deixá-la confusa.

O melhor palco para a aquisição de competências, no caso das crianças, é o cenário onde se brinca. Que nessa brincadeira a criança seja pontualmente convidada a articular palavras, a formar pequenas frases simples. 

Que seja reforçada com o prémio de passar à cena seguinte, naquele teatro que ela escolheu. Que seja também reforçada pelo seu genuíno interesse naquilo que ela lhe expõe, o tema da brincadeira.

Acima de tudo é preciso ter disponibilidade, afetiva, emocional e temporal, para quem ainda não adquiriu esta Arma, para quem a perdeu (e pode recuperar) e para quem está em vias de perder (doenças degenerativas).

No caso da pessoa com demência, quando esta Arma falha, há que ser tolerante, fazer perguntas fechadas, de sim ou não; fazer perguntas simples com apenas duas possibilidades de resposta... E acima de tudo, mostrar com a comunicação não verbal, o nosso afeto, proporcionando um ambiente calmo e bem-estar psicológico.

Dr.ª Rute Teixeira, Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica e da Saúde                                                           Agendamento de consultas:  96 336 74 37
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