Sobre a ausência de recreio e curtíssimos intervalos escolares
"Uma criança passa menos tempo ao ar livre do que um recluso", alertou-nos o Psiquiatria da Infância e da Adolescência, Dr. Pedro Strecht, em entrevista para o Observador, a 20 Outubro 2018.
Infelizmente tenho de corroborar: os intervalos foram-se tornando mais pequenos e, esta escolha, alastrada a cada vez mais escolas.
Imagino que este carácter progressivo e lento levou a que muitas pessoas, alheias à comunidade escolar, nem dessem por isto.
Pior, parece-me que há pouca consciência acerca das implicações neuropsicológicas e da personalidade desta escolha escolar.
Sei que "ausência" pode parecer uma palavra forte mas, se me permitem a brincadeira com as palavras, então, admito que há intervalos (muito curtos), mas não há recreio.
Aliás, preocupa-me que a educação escolar esteja cada vez mais centrada nas aprendizagens cognitivas, que certamente serão perturbadas pela falta de vivência nos recreios.
O tempo de brincar (e jogar, conversar e interagir) equivale à co-construção da regulação emocional (e relacional e afectiva) onde assentam os conteúdos racionais (e cognitivos) aprendidos nas aulas.
Por isso pergunto: como construir inteligência, sem recreio?
Impossível.
(Imagem: KHANINE Evgueni [1930], "Children playing (secrets)")