Sobre o deixar para amanhã...
Este texto, sobre o "empurrar com a barriga", surge nesta altura, após a Páscoa, porque esta Época, associada à Ressurreição de Cristo, remete para o Renascimento, ou melhor, para o encetar de novas decisões, tarefas e metas...
... E essas experiências, tornadas vivências, dão cor e sabor à vida!
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Este texto, sobre o "empurrar com a barriga", surge nesta altura, após a Páscoa, porque esta Época, associada à Ressurreição de Cristo, remete para o Renascimento, ou melhor, para o encetar de novas decisões, tarefas e metas...
... E essas experiências, tornadas vivências, dão cor e sabor à vida!
Eis, como introdução ao tema, a letra de António Variações e António Rodrigues Ribeiro:
"É p'ra amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual
É p'ra amanhã
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar
Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Então tu queres mas é tarde demais
É p'ra amanhã
Deixa lá não faças hoje
Porque amanhã tudo se há-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar
Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece não consegues gostar
E do que gostas já está preenchido"
Este é um dos temas que mais me aparece em consulta: o empurrar com a barriga; o deixar para amanhã o que é para fazer hoje; o entulhar-se de tarefas que, precisamente, por isso, se tornam intermináveis, reforçando a ideia de que não se é capaz.
Está presente em relações tóxicas, das quais se quer livrar, mas se adia constantemente; está presente numa vida laboral que não preenche; está, no limite, a adiar a vida de muitos de nós.
E se adia a vida, adia o desenvolvimento, ou pelo menos entrava novas experiências, que poderiam tornar-se vivências, a criar as memórias que compõem o quadro da vida.
A questão é: como quer pintar o seu? Fluido ou com impasses? Construindo ou sabotando?
É que esperar por uma solução milagrosa, sem a nossa acção, sabota a vida.
Aliás, sabotar-se a si mesmo acontece quando uma parte de nós boicota a nossa acção, começando primeiramente com as palavras, com as quais pensamos e que, por seu turno, influenciam, por exemplo, os nossos níveis de auto-motivação ou de vontade para planear, iniciar, manter e verificar as nossas tarefas ou eventos da vida (e.g., planos de crescimento e superação pessoal ou profissional).
A procrastinação contribui enormemente para a auto-sabotagem, pois este comportamento, agido de forma sistemática, leva-nos a arrastar o tempo útil da nossa vida, sem que nada se cumpra, ou sem que nada seja acrescentado, por nós, ao nosso próprio desenvolvimento (emocional, cognitivo ou relacional). Em suma, estagna-nos.
Mantermo-nos focados nas metas que queremos atingir, desligando-nos de distracções (no sentido de tudo aquilo que não contribui para o desenvolvimento humano), são dois dos antídotos mais usados.
Por outro lado, a falta de assertividade, expressa na dificuldade de dizer "Não" aos outros, assoberba a agenda tornando a incompletude das tarefas um desenrolar óbvio e o desgaste mental uma certeza. Se nunca terminarmos as tarefas às quais nos propomos, reforçamos a ideia de que não somos capazes.
Contudo, se prestarmos atenção, uma vez que o dia tem 24h, deveria ser dividido em 3 parcelas: 8h de sono (para funcionarmos no nosso melhor nível cerebral), 8h para trabalho (remunerado) e 8h para lazer (o que inclui o cuidar de si, da casa e da família).
Isto significa que devemos assumir apenas tarefas de 8h por dia, em termos familiares; de 8h por dia em termos laborais e devemos sempre respeitar as necessidades de descanso do nosso corpo e cérebro.
Por último, a baixa auto-estima boicota a vida, em geral, porque está na base de pensamentos que desmotivam: "Não consigo"; "Não mereço"; "Nunca conseguirei fazer o que o meu colega faz"; "Eles são mesmo excepcionais e eu sinto-me tão pequenino, quando me comparo com eles"; "Nunca vou conseguir ser tão bom como eles; "Nunca vou conseguir superar/ lidar com isto, porque não tenho o necessário, ao contrário dos outros.".
Aprender a ver-se como uma pessoa com características dignas de serem valorizadas e aprender a deixar de idealizar as características dos outros são duas formas de dominar os efeitos negativos da baixa auto-estima, na auto-sabotagem.
Uma outra forma, mais profunda é, claramente, através da ciência que trata estas questões: a Psicologia Clínica.